ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO- PSICÓLOGO C.R.P. 31341/5 (TERAPIA DE CASAL E INDIVIDUAL- TATUAPÉ SP-SP TELS: 26921958 / 93883296
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AGRESSIVIDADE(ANÁLISE PSICOLÓGICA)
Talvez não haja um tema
tão importante para o desenvolvimento das relações sociais, e melhoria da
qualidade de vida do coletivo do que discutir à agressividade em vários níveis psicológicos. Infelizmente por aspectos culturais
e até mesmo religiosos, se compara a agressividade apenas com violência ou destrutividade. Estas duas últimas são aspectos totalmente patológicos da
conduta humana, causando risco iminente para a própria sobrevivência da
espécie. A agressividade é um fenômeno comum do cotidiano, e nos cabe entender a mesma, buscando tanto seus aspectos positivos quanto os negativos. O
enfoque do estudo é a agressividade enquanto afastamento de outro ser humano, e
não a violência ou qualquer coação física.
Por definição, dentro de um parâmetro psicológico, a
pessoa agressiva é aquela que reage a todo acontecimento, como se fosse uma
prova, contenda ou disputa na sua leitura mental. A competição passa a reinar
na alma da pessoa; e se fizermos um levantamento da história do indivíduo,
descobriremos que desde cedo o mesmo se esforçou em demasia para não vivenciar
a experiência da exclusão. A crítica é sempre devastadora para estas pessoas. Esta definição contempla os aspectos negativos do
fenômeno. É curioso notar como a agressividade é um divisor de formas de
conduta ou personalidade, pois o oposto é uma pessoa que vive em lamúria ou
autocomiseração. Já os agressivos têm uma precipitação de reações ou
sentimentos. Mais curioso ainda é como a sociedade amplia o conceito de agressividade, considerando que a própria sinceridade e autenticidade são resultados da
mesma.
Com toda a
certeza a hipocrisia é a manutenção da agressividade ao extremo, cortando todas as formas possíveis de reação. É um instrumento político de manutenção da força e desigualdade, para se evitar qualquer
transformação nas relações. Poucos refletem sobre o fato de que uma explosão
de raiva pode ser tão agressiva quanto uma omissão num momento fundamental de
ajuda ou participação perante outra pessoa. Já sabemos que a dissimulação
faz parte de nossa era, mas esta também é uma “filha” legítima da agressividade, sendo uma espécie de permissão para vivenciar a mesma de forma
velada como foi exposto. O dilema histórico da humanidade é quando conter ou não a agressividade. Sua repressão abala inclusive a saúde física
da pessoa.
O problema é que numa sociedade totalmente competitiva como a nossa, toda a resposta caminha à agressão, por conta da leitura de que alguém está invadindo o espaço vital do sujeito. A conseqüência é não apenas enfrentar os efeitos da agressividade, assim como a culpa resultante do processo. Quais seriam os aspectos positivos da agressividade? Servir para uma reflexão profunda sobre o tipo de reação que realmente é necessária. Os extremos assolam nossa sociedade; seres belicosos em qualquer situação banal, e personalidades ingênuas, não abstraindo a verdadeira intenção de seu meio; expor também os reais aborrecimentos ou sentimentos de frustração perante a pessoa ou coletividade. O problema passa a ser a dosagem de como isto é feito.
A autenticidade não implica necessariamente em rigidez,
potência de voz ou extrema ansiedade. A explosão emocional se insere exatamente
neste quadro, e a pessoa invariavelmente perde sempre o controle. Mas o que
acontece que motiva sempre a perda do rumo para uma situação de conflito?
Novamente podemos falar da competição? Tudo o que está sendo levantado remete
ao que ALFRED ADLER, contemporâneo de FREUD, e criador da psicologia social,
chamava de “complexo de inferioridade”. Pode ser definido desde sentimentos
ou pensamentos depreciativos para com o próprio físico da pessoa, passando por
sua crença internalizada de que não é uma pessoa com poder ou carisma perante a
sociedade.
Quem sofre do complexo de inferioridade convive desde
sua infância com uma certeza mórbida de que sempre é a última a ser lembrada ou
requisitada para algo especial.
A conseqüência deste processo é o desenvolvimento de uma personalidade tímida e
retraída, sendo que nas situações sociais não sente nenhuma potência pessoal,
gerando a raiva e ódio como compensações psicológicas. É como se na presença de
outros se sentisse totalmente anulada, e o ódio citado vai constantemente sendo
expelido. O drama máximo do agressivo é não perceber que é usado
constantemente por pessoas que não conseguem lidar com sua raiva; estas acabam
sempre criando uma armadilha para que a suposta pessoa agressiva atue o que as
outras jamais teriam coragem de expor. É uma projeção de catarse no outro.
A agressividade negativa remonta a dificuldade de se lidar com o sentido mais profundo da vida. A posse e o apego, por exemplo, são forças
direcionadas para um prazer metafísico de acúmulo ou continuidade do ego, o que contraria a essência de nossa vida que diz que jamais iremos reter,
mas ao contrário, apenas podemos deixar algo. Este fator realmente é eterno.
Desde a disputa do complexo de Édipo, até as disputas históricas pelo poder,a agressividade negativa tem a característica de deixar marcas ou traumas
indeléveis. É a tentativa de se eternizar usando o pólo destrutivo da alma
humana. Infelizmente nossa mais forte lembrança para as gerações futuras sempre foi o uso da força e a brutalidade, nos mostrando que jamais
esqueceremos alguém que nos impôs algo, ou então que desfilou determinado sentimento para o qual jamais poderíamos nos preparar, sendo esta a essência
do trauma.
Se o respeito for obtido pela autoridade ou desprezo,
a conseqüência inevitável será a cristalização do medo e insegurança. Caso seja conquistado pela superproteção ou mimo, se desenvolverá uma
Personalidade egoísta e narcisista. O único ponto possível de equilíbrio é a
retirada absoluta do rancor de um passado, para que a pessoa não descarregue ou
compense algo em seus descendentes. O respeito pleno pela individualidade deve
ser a meta. Obviamente não se esquecendo a imperiosidade de regras de
convivência e responsabilidade social. Paciência, dedicação e confiança são a
tríplice potência para formarmos algo de valor. A pergunta é: Você está
disposto a aprender a ser um bom pai ou mãe? Tem ciência de toda esta
responsabilidade para com o futuro do ser humano?
O fator psicológico central de uma pessoa agressiva é que a mesma possui a plena consciência de uma vida que lhe seria satisfatória, agindo com um tom constante de revolta pela não obtenção de seu projeto pessoal; sabe também que a cada dia está mais distante dessa meta. Esta tese se transforma no núcleo do círculo vicioso. O não atingir o desejo pessoal ativa uma reação descontrolada e intempestiva perante uma simples frustração, e tal hábito afasta a pessoa da solução definitiva de seu problema comportamental. Reagir perante os mais insignificantes fatos novamente é o indício da atuação marcante do complexo de inferioridade no ser humano.
A agressividade se alia constantemente com outros
sentimentos negativos, o principal deles é a inveja, devido à possibilidade da
descarga da frustração e raiva. A inveja cria uma constante necessidade de fuga
da situação dolorosa de se comparar e se sentir inferiorizado, partindo-se para
o ataque. A agressividade é conseqüência de uma política não apenas econômica
do nosso sistema, mas dirigida a esconder todos os sentimentos ou emoções
negativas do tipo: cobiça, ódio, avareza e a inveja citada. O sistema só
permite o aflorar de tais sentimentos na hora exata do consumo, pilar da
sociedade e fator destrutivo do “eu”, dependendo de sua freqüência. A agressão então se transforma na resposta
fisiológica do silêncio imposto pela sociedade, assim como suas regras de
dissimulação, como vimos anteriormente. Torna-se ainda um tipo de distração e
fuga do tédio e rotina que assolam a pessoa. Jamais haverá cura para a agressão
social e individual se não lidarmos com todos os mecanismos que geram a
hipocrisia nas relações.
A tese no transcorrer do texto é a de que o agressivo
se adianta a uma possível experiência de rejeição, tendo a certeza de que
alguém fatalmente irá contrariar suas expectativas. Além disso, se conhece como
uma pessoa totalmente solitária, sendo que o aflorar de sua agressividade é
exatamente em resposta ao hábito de jamais conseguir conservar uma amizade ou
relacionamento, disfarçando sua miséria afetiva no remoer todo tipo de
conflito. A derrocada de qualquer projeto afetivo sempre será iminente. A
pergunta é: será possível anular tal “maldição” pessoal? A experiência
clínica comprova que uma das únicas possibilidades de cura é a vivência de seus
sentimentos dolorosos na psicoterapia, transportando seu lado bélico numa arena
onde realmente possa ser diluído ou controlado. A agressividade continuará
no topo comportamental da pessoa quanto maior for sua necessidade de atenção ou
carência. Temos de perceber que a compulsão para a liderança, poder e orgulho,
quase sempre pode superar uma reflexão genuína e honesta acerca da conduta da
pessoa. O fato é que a resposta agressiva acaba não temendo qualquer tipo de
perda, pois sua meta é a desforra contra imagens de ódio internalizadas em seu
passado.
O sonho a seguir relatado por um paciente dá a medida
exata de tudo o que foi dito até o presente momento: “sonhei que iria enfrentar
o maior campeão do mundo no boxe; meu treinador também havia sido um grande
lutador; comecei a perceber então a enrascada em que estava; como poderia
enfrentar alguém tão forte e impiedoso sem nunca ter treinado ou feito qualquer
tipo de condicionamento físico; pensava em desistir, mas o medo do vexame me
assolava totalmente; sentia que meu oponente além de tudo estava em sua melhor
forma física; o curioso é que meu treinador acreditava em mim, me falando que a
saída era um único golpe certeiro. A multidão começou a lotar o ginásio, e
antes da luta vim a falecer”. Este sonho mostra de forma cristalina toda a
desproporcionalidade vivida por pessoas com um potencial agressivo acima da
média, se engajando em situações onde fatalmente não terão um mínimo preparo
para resolver de forma equilibrada seus conflitos, sejam pessoais ou sociais. É
interessante como a energia agressiva atrai um “campeão do boxe”, provando que
o fator inconsciente lançará a pessoa no caos, pois sua ira interna é desmedida
perante suas reais potencialidades e possibilidades. O agressivo possui uma
ambigüidade constante de desafio e recuo, o que aumenta sensivelmente todo seu tormento
ou complexo de inferioridade.
Mas é justamente neste ponto que coloco em discussão
outra temática polêmica; o agressivo não desejaria nunca ter a conduta do
desafio, porém, sente que não há outras alternativas afora seu comportamento
viciado. Como seria de vital importância que o sistema percebesse e
aprofundasse tal conceito, provando realmente seu desejo de ajudar a evolução
da pessoa. O emaranhado criado pela agressividade visa somente a compensação
pela falta de estrutura e segurança afetiva. A agressividade em nosso mundo
sempre irá gerar uma sensação de orfandade ou abandono, pois quase nenhum ser
humano tem a capacidade de lidar plenamente com a culpa ou remorso após uma
situação conflituosa. Aprofundando um pouco mais tal conceito, diria que
somente depois de determinada perda é que o sujeito preso na agressividade
visualiza todo seu histórico e modo de lidar com os afetos, embora como disse
antes não consiga frear tal acontecimento.
Se olharmos à nossa volta, perceberemos que a
competição é a droga ou vício de alguém que sempre tombará no lado pessoal.
Basta nos atermos ao drama das separações ou conflitos conjugais. É
impressionante a alienação nesta esfera. Há muito venho afirmando que nossa
conduta profissional ou social é inteiramente transportada para o lado afetivo,
pois uma relação jamais estará protegida das contaminações das relações sociais
e de poder, porém, quase ninguém ainda percebeu tão óbvia conclusão. A
agressividade gera todo tipo de medo perante uma retaliação ou revanche, desencadeando
o fenômeno da paranóia. É curioso que a psicanálise tenha descrito tal
patologia como sendo uma proteção inconsciente perante uma possível
homossexualidade, alterando tal conteúdo sexual para uma sensação de ser
perseguido constantemente. O que FREUD deixou de salientar com seu famoso
estudo do caso *SCHREBER, é que o paranóico não está fugindo de possíveis
energias sexuais que teme, mas que a própria paranóia é o último recurso para
não se tornar um psicopata, dado que sua agressividade atingiu um estágio fora
de qualquer tipo de controle. Assim sendo, a mente inverte a polaridade,
fazendo com que a mania de perseguição encubra ao menos temporariamente seus
instintos destrutivos; ao invés de ser o perseguidor, se transforma na vítima.
O rancor, a raiva ou o ódio dão uma falsa sensação de
vitalidade para a pessoa com a meta da desforra, porém, cedo descobrirá que há
muito se encontra putrefata em seu passado de tortura por algo que apenas
encobre sua incapacidade para o novo. Outro drama do agressivo é sua relação
com a questão do tempo. Sente que não o possui em demasia, desenvolvendo a
impaciência e extrema ansiedade. O agressivo possui uma idéia arraigada ou
internalizada de que há muito lhe foi retirado algo de extremo valor no auge de
seu gozo ou aproveitamento. A conseqüência é o incremento do narcisismo,
pois clama o tempo todo que foi “roubado”, ou que até hoje não vivenciou
determinada experiência de prazer, achando que deve ser o único merecedor de
atenção perante sua injustiça pessoal. O agressivo se tornaria extremamente
útil se aprendesse a utilizar sua energia de protesto no favorecimento e
reforço de pessoas com baixa auto-estima ou temerosas de seu eu. Não seria
apenas uma sublimação, mas um ânimo que poderia doar ou compartilhar com alguém
que está sempre duvidando de suas capacidades. Claro que o sujeito agressivo
também não tem uma boa estima, mas o que enfatizo seria o transporte de
determinadas atitudes àquelas pessoas que nem sequer se posicionam nas mínimas
solicitações.
A experiência clínica nos mostra uma faceta curiosa
acerca do fenômeno da agressividade. Muitas pessoas que vêm para se tratar são
extremamente instruídas tanto do ponto de vista intelectual, como de
experiência de vida propriamente dita. O fato é que quase todas alegam não
conseguir encontrar alguém que aceite trocar ou aprender sobre seu grande
conhecimento acumulado. Alguns rapidamente responderiam que tal fato ocorre
pela rejeição perante a personalidade do agressivo ou o modo como se comporta.
Embora isto seja evidente, não completa como um todo a análise da questão. Não
seria apenas o medo de uma pessoa o fator determinante do afastamento, mas
principalmente que esta lhe desperte um potencial que nunca soube explorar. Foi
citado anteriormente que o agressivo pode ser uma espécie de “bode expiatório”,
àquelas pessoas que não ousam se colocar de forma sincera. Aqui acrescento uma
certa inveja contra alguém que apesar de talvez exceder no trato social,
alimenta uma certeza perante seu posicionamento. O final da era das revoluções
se aplica também na pessoalidade humana; a lei atual é o medo e ansiedade
quando se escuta a palavra mudar.
Outra questão a ser enfatizada é: o que leva em nosso
cotidiano a alguém aumentar seu potencial agressivo? É um erro imputar tal
fenômeno a uma sensibilidade em excesso perante injustiças pessoais, ou as
traições e decepções que vivenciamos diariamente. A verdadeira questão é que
o sujeito agressivo, apesar de toda sua conduta imponente se sente na maioria
das vezes totalmente dependente do outro, e o ódio é uma reação de desespero e
tentativa de negar tal condição; este é seu pecado capital, quanto maior a
energia empregada numa contenda, maior o risco de capitulação perante a opinião
alheia. Não é por acaso que a sociedade é tímida, pois o verdadeiro inferno é a
ditadura do julgamento alheio. A sociedade encaixa e dá sua importância
a algumas modalidades: beleza, poder, riqueza ou prosperidade, candura e
obstinação. O agressivo é totalmente expurgado do quadro anterior, sentindo que
apenas na infração penal ou até mesmo na guerra é que se torna alguém
necessário, sendo talvez suas únicas razões históricas de existência. A
conseqüência de tal compreensão é um imenso quadro ansioso e de expectativa de
mudança que não depende mais do indivíduo, mas de outro que possa lhe dar a
absolvição.
Enfim, o agressivo deve aprender que uma verdade que
expõe pode até ser transcendental, mas jamais pode justificar a submissão plena
do outro. Há a necessidade da compreensão, observação e escuta profunda, mesmo
perante alguém imbuído de idiossincrasias. O agressivo deve perceber que se
habituou com um cenário de disputa e conflito, sendo que seria uma vitória para
seu caráter expor seu lado caloroso e humano, e não somente sua rebeldia. A
amargura que carrega, sempre será uma defesa perante sua “cruzada” histórica
mal sucedida nos afetos. Sente ainda que jamais teve uma chance concreta de
mudança ou de mostrar algo diferente. A observação clínica mostra que o
agressivo possui uma admiração e curiosidade por pessoas formais e pragmáticas.
Isto se deve ao fato de que estas últimas têm um anteparo eficiente contra a
rejeição ou agressividade do meio. O agressivo apesar de tudo sabe que é um
eterno ingênuo num mundo de códigos e condutas totalmente subliminares. Sente a
cada dia o afastamento por sua integridade emocional. Procura desesperadamente
alguém que o aceite e compreenda seu modo peculiar de enxergar as relações
cotidianas. Encanta-se facilmente com uma pessoa que mostra alegria e
felicidade dentro de toda a estrutura social corrompida, pois sua necessidade é
de uma espécie de “férias” do lado sombrio que constela diariamente. A lição
suprema para este tipo psicológico é que toda a carga agressiva que tentou
expelir durante anos, acabou se voltando contra si próprio, maculando sua paz
de espírito, fator primordial para a saúde psíquica.
*SCHREBER: famoso caso atendido por FREUD de uma
manifestação de delírio paranóico, que foi interpretado como um homossexualismo
latente.
Referências bibliográficas: FREUD, Sigmund. “O
CASO SCHREBER”, in OBRAS COMPLETAS. MADRID(ESPANHA): BIBLIOTECA NUEVA,
1981.
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